Um
abrigo começa sempre com as melhores intenções. Se quem o abre tem uma
certa dose de "pé no chão", imagina um número limite de animais a serem
abrigados. Mas o objetivo nunca é atingido. Seja porque se condói dos
animais abandonados que encontra; ou dos casos tristes que donos contam
para deixar a responsabilidade na mão do outros; ou ainda, daqueles que
abandonam na porta, ou jogam animais lá dentro.
Em pouco tempo o limite anteriormente fixado é
expandido. E quem pensava ter 50 animais se vê com 100, 200 para
alimentar, vacinar, manter limpos, higienizar as instalações, etc. Já
ouvi histórias de fortunas perdidas em sonhos de abrigo. Recentemente a
de uma senhora que estava sendo obrigada a sacrificar os animais mais
idosos e doentes por não poder mantê-los, mesmo em precaríssimas
condições. Depois de seu patrimônio ter se acabado, passado pela fase de
pedir ajuda aos amigos, depois parentes, depois aos desconhecidos, por
fim a veterinários e à Proteção Animal para sacrificar os animais aos
quais ela sonhou dar uma vida melhor ou salvar da morte nas ruas.
Abrigo não é solução, é problema gerado pelo
descaso social. Do lado oposto de quem sonha montar um, existe a crença
das pessoas em geral de que basta pegar um animal na rua e metê-lo num
abrigo para resolver o problema. Quantas vezes ouvimos "leva pra
Sociedade Protetora dos Animais..." Se visitassem algum abrigo dos
muitos existentes por aí, veriam a triste realidade: Dezenas, até
centenas de animais se digladiando por comida, muitos doentes, e até
casos de canibalismo gerados pela fome. Mas ninguém pensa em como a
"Sociedade Protetora" vai conseguir recursos.
O que a sociedade não vê, está muito claro
para nós que lidamos com o problema 24 horas por dia: em vez de abrigo,
dar lar transitório, uma casa de apoio. O animal é tratado, vacinado,
esterilizado e doado. E isso, por vezes, demora meses.
Como doar tantos animais e os resultantes dos
naturais cruzamentos, que nascem aos montes todos os dias? Como achar
"donos" suficientes (e responsáveis ) que os adote?
Informando e educando as pessoas sobre guarda responsável e fazê-las compreender que esterilizar cães e gatos (fêmeas) é a única solução possível para o abandono de animais em massa com que convivemos.
Mas o que é desesperante é ver ainda
veterinários aconselharem donos a deixar seus animais ter a primeira
cria para só depois esterilizá-los; donos darem a desculpa de que
"esterilizar faz o animal engordar" (é só continuar dando a mesma
quantidade de alimento que isso não acontece ); desculpa da "falta de
dinheiro " (quando a Prefeitura e os grupos da Proteção oferecem
cirurgias a baixo custo ou mesmo gratuitas ); e da anti-social indústria
dos criadores.
E estas mesmas pessoas ainda têm coragem de
dizer que gostam de animais, deixando nascer aqueles que serão doados
para qualquer um. Ou se alimentar de lixo. Ou morrer atropelados. Talvez
sarnentos, famintos, num abrigo irremediavelmente sem recursos, sem ao
menos o carinho de um dono.
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